Saturday, December 16, 2006

Um Reino de Águas Claras






Uma floresta negra, com cogumelos venenosos que explodiam ao tocar. A luz não entrava e não havia clareira. Aislinn anda por uma picada estreita e infinita. Alguns espinhos a machucavam e deixavam marcas roxas em seu dorso. Doía, mas ela resistia. Apesar da dor admirava a beleza das árvores altas e folhas verdes. Tinha uma fé inabalável e um instinto de que logo encontraria. Sentia-se sozinha num lugar distante e totalmente desconhecido.
Chega ao final da trilha e avista uma porteira. Uma fazenda com pasto verde. Nenhuma casa. Aislinn estranha um pouco, mas continua seu caminho. Logo mais avista uma bela cachoeira.

Uma cachoeira de águas claras. Um microcosmos de uma complexidade infinita. Milhares de seres sobrevivendo neste lugar diferente. Diferente e Belo. A cachoeira de um lado e o oceano de outro. O caminho dividia as águas. A água doce da água salgada. Por ser um caminho estreito, era fácil para o golfinho pular de um lugar para o outro. Muireadhach era seu nome.

O caminho era estreito mas muito verde. As águas claras e azuis…. De um azul de agua marinha.
Aislinn imediatamente sentiu-se em casa e agora era protetora daquelas águas. Alguns viajantes se aproximavam e queriam se deleitar nas águas. Elas eram límpidas demais para que alguém colocasse os pés. Os pequenos animais se assustariam. Todo o ritmo daquele microcosmos iria ser abalado se uma multidão tomasse conta.

Assim Aislinn cuidava daquele lugar, dia após dia, escutando o som das águas que sussurravam conselhos sábios. Muireadhach a divertia brincando e pulando de um lado ao outro… Agora ela o chamava apenas Muir. Ele trazia estórias de além mar, de reinos distantes, trozitos, princípes e princesas, cavaleiros, fadas e bruxas más. Muir também dava dicas a Aislinn de como cuidar das plantas, de como preparar sua refeicão, de como não se apegar à coisas materiais e aproveitar o momento.
Ele vinha de um mundo distante, mas gostava mesmo de ficar com Aislinn e dividir suas alegrias. Não falava muito de sua própria vida, de como chegara ali, mas suas estórias a encantavam.

Mesmo dormindo na grama, sob a luz das estrelas, isso näo a incomodava. Se alimentava de víveres que Muir trazia de terras distantes. O amor de Aislinn por Muir crescia a cada dia e isso fazia com que ela se dedicasse mais a preservar esse lugar mágico.

Um dia o sol parou de brilhar. Os peixes sumiram. Muir nao apareceu mais. Aislinn não sabia a razão. Talvez fez algo de errado. Não arou direito a terra, não deu água as plantas, não deu atenção suficiente ao golfinho brincalhão. Aislinn não sentia mais forças. As pessoas entravam e se esbaldavam no que restava das águas claras.
Talvez Muir não soubesse a felicidade que ele dava a Aislinn ao ficar naquele lugar e compartilhar suas estórias.
Na terceira semana, de escuridão e frio, após construir um abrigo seguro, Aislinn decidiu sair daquela tristeza. Começou a plantar tulipas, pois suportariam o clima. Plantou no caminho inteiro, em volta da cachoeira, nas cercas da fazenda. Eram tulipas de todas as cores possíveis e imagináveis.
Concentrou suas energias em restaurar o lugar abandonado por Apolo e ignorado por Afrodite. Trabalhou na terra dura e seca. Agora o lugar antes mágico, estava mais vivo, brilhante, colorido intenso como um quadro de Renoir. O que era antes belo por natureza, virou belo pelas suas próprias mãos.