Saturday, December 16, 2006

Um Reino de Águas Claras






Uma floresta negra, com cogumelos venenosos que explodiam ao tocar. A luz não entrava e não havia clareira. Aislinn anda por uma picada estreita e infinita. Alguns espinhos a machucavam e deixavam marcas roxas em seu dorso. Doía, mas ela resistia. Apesar da dor admirava a beleza das árvores altas e folhas verdes. Tinha uma fé inabalável e um instinto de que logo encontraria. Sentia-se sozinha num lugar distante e totalmente desconhecido.
Chega ao final da trilha e avista uma porteira. Uma fazenda com pasto verde. Nenhuma casa. Aislinn estranha um pouco, mas continua seu caminho. Logo mais avista uma bela cachoeira.

Uma cachoeira de águas claras. Um microcosmos de uma complexidade infinita. Milhares de seres sobrevivendo neste lugar diferente. Diferente e Belo. A cachoeira de um lado e o oceano de outro. O caminho dividia as águas. A água doce da água salgada. Por ser um caminho estreito, era fácil para o golfinho pular de um lugar para o outro. Muireadhach era seu nome.

O caminho era estreito mas muito verde. As águas claras e azuis…. De um azul de agua marinha.
Aislinn imediatamente sentiu-se em casa e agora era protetora daquelas águas. Alguns viajantes se aproximavam e queriam se deleitar nas águas. Elas eram límpidas demais para que alguém colocasse os pés. Os pequenos animais se assustariam. Todo o ritmo daquele microcosmos iria ser abalado se uma multidão tomasse conta.

Assim Aislinn cuidava daquele lugar, dia após dia, escutando o som das águas que sussurravam conselhos sábios. Muireadhach a divertia brincando e pulando de um lado ao outro… Agora ela o chamava apenas Muir. Ele trazia estórias de além mar, de reinos distantes, trozitos, princípes e princesas, cavaleiros, fadas e bruxas más. Muir também dava dicas a Aislinn de como cuidar das plantas, de como preparar sua refeicão, de como não se apegar à coisas materiais e aproveitar o momento.
Ele vinha de um mundo distante, mas gostava mesmo de ficar com Aislinn e dividir suas alegrias. Não falava muito de sua própria vida, de como chegara ali, mas suas estórias a encantavam.

Mesmo dormindo na grama, sob a luz das estrelas, isso näo a incomodava. Se alimentava de víveres que Muir trazia de terras distantes. O amor de Aislinn por Muir crescia a cada dia e isso fazia com que ela se dedicasse mais a preservar esse lugar mágico.

Um dia o sol parou de brilhar. Os peixes sumiram. Muir nao apareceu mais. Aislinn não sabia a razão. Talvez fez algo de errado. Não arou direito a terra, não deu água as plantas, não deu atenção suficiente ao golfinho brincalhão. Aislinn não sentia mais forças. As pessoas entravam e se esbaldavam no que restava das águas claras.
Talvez Muir não soubesse a felicidade que ele dava a Aislinn ao ficar naquele lugar e compartilhar suas estórias.
Na terceira semana, de escuridão e frio, após construir um abrigo seguro, Aislinn decidiu sair daquela tristeza. Começou a plantar tulipas, pois suportariam o clima. Plantou no caminho inteiro, em volta da cachoeira, nas cercas da fazenda. Eram tulipas de todas as cores possíveis e imagináveis.
Concentrou suas energias em restaurar o lugar abandonado por Apolo e ignorado por Afrodite. Trabalhou na terra dura e seca. Agora o lugar antes mágico, estava mais vivo, brilhante, colorido intenso como um quadro de Renoir. O que era antes belo por natureza, virou belo pelas suas próprias mãos.

Friday, October 20, 2006

O encontro

Noite de lua cheia. As máscaras caíram ao se despirem. Despiram-se dos jogos, de brincar de gato e rato. E junto às roupas e máscaras ao chão, lá estavam atentos; o tigre, o gato, o adolescente e o sábio. Eles sabiam do desfecho de antemão e por isso espreitavam.
Minutos antes desse momento, as palavras eram um emaranhado, um novelo sem comeco nem fim. As idéias obscuras, embacadas pelo desejo. Enigmas criados com um único intuito. A aproximacão. As palavras eram belas, mas os levavam a um labirinto sem fim. O que faltava era o toque, o afago. E foi assim que ela deixou-se levar. Após uma batalha árdua, ela rendeu-se e assim libertou-se. A fantasia ficou mais leve, natural e viva, rodopiando entre eles.

A Woman of The Full Moon - Original Art by Zeljko Djurovic

Wednesday, October 18, 2006

O Cavaleiro e a Flor

O cavaleiro lidava com a frieza da guerra, a fúria, o ódio, a luta por territórios, sangue, sacrifícios. Porém, mesmo no meio desse ambiente frio, ele permanecia com sua alma intacta e seu coracão aquecido por imagens oníricas, de grama verde, de cavalos no pasto. Assim ele sentia-se vivo.

Um belo dia, andando por entre os escombros da guerra, deu uma passada maior e... Ops! Quase pisa em uma pequena florzinha branca. Ela resplandecia, por entre o chão duro e sem vida.
Ele, com o maior cuidado, conseguiu desviar. Quando bateu o olho naquela flor, seu coracão saltou. De alegria e esperanca.

A flor, que por muitas vezes passou por situacoes semelhantes, sorriu de alívio. Porém, dessa vez, com seus olhos de flor conseguia ver espectros coloridos naquela alma. Não eram as mesmas cores que estava acostumada a ver passar. Este tinha uma alma clara. Brilhava. Tinha verde também, assim como as plantas.

O cavaleiro, estarrecido por encontrar uma flor tão delicada e viva por entre os destrocos, compadeceu-se. Decide aguá-la todos os dias. Até onde ela conseguiria sobreviver. A flor, toda contente e faceira, agradecia a cada gotinha de água. Para ela eram como bencãos do céu.

O amor do cavaleiro pela florzinha, foi alimentando-a aos poucos. E ela foi crescendo. Ele, sempre pontual, não deixava de comparecer ao encontro.
A flor foi se espichando. Ramos e galhos apareceram. Mais flores brotaram. E o amor pelo cavaleiro foi criando raízes mais fortes. Agora ninguém pisaria mais na florzinha indefesa, pois em seu lugar havia uma estrondosa e robusta árvore, repleta de frutos suculentos, que alimentavam quem passava. Já não havia mais a necessidade de aguá-la, pensava o cavaleiro.
O cavaleiro decide parar de visitá-la. A árvore estrondosa poderia viver por si própria. Ele, por sua vez, estava muito ocupado com seus afazeres de guerra. E diz para si mesmo que agora ela deve cuidar da sua vida. Agora ela tem forcas para ir em frente.

A partir deste momento, a árvore comeca a perder suas folhas. Em pouco tempo a árvore perde seu vico. Seus frutos são amargos.
O cavaleiro não tinha idéia de que seu amor pela frágil florzinha pude-se ser a base de seu alimento. E foi.

Monday, October 02, 2006

Crepúsculo

Na cidade, em meio a barulhos, enxergo as luzes embacadas. Nada claro, tudo distorcido. Forco a vista, para ver se enxergo melhor. Miopia total. Isso sempre acontece na hora que os dois mundos se encontram. A claridade e a escuridão. O crepúsculo. Totalmente sem foco, percebo que o que via nele eram apenas flashes de um sonho distante. As imagens da cidade se confundem com o seu sorriso embacado. Agora o vejo distorcido, envolto em uma névoa de sarcasmo. Tento novamente forcar a vista para ver se enxergo algo além daquelas palavras frias. Não, sem resposta. A distância continua a mesma. Me esforco mais uma vez, agarrada a esperanca e a lembranca de dias felizes. De caras e bocas engracadas. De docilidade. Não. Não vejo mais. Foi sumindo, assim como o sol no crepúsculo e a chegada da noite.

Monday, September 18, 2006

Alice no país dos conflitos

Andando por entre as macieiras, me transporto para o meio das areias do deserto.
Um gato, com olhos de um profundo azul, me recebe com um sorriso quente.


Ele me diz, com uma voz doce, que estou no meio do deserto no Afeganistão. Sinto a areia batendo em meu rosto e o sol castigando minha pele. Isso não me incomoda, pois o gato, que se diz selvagem, sabe conduzir com desenvoltura nosso encontro e me distrai.

Ouco boquiaberta suas estórias de sereias apaixonadas e filhos bastardos da lua. Ele me diverte, tem uma risada contagiante e a sabedoria de um velho dervixe. Me canta músicas e me envolve com suas palavras doces.

Tira uma caixinha brilhante do bolso – sim, ele tem um bolso em sua calca camuflada! Quando abre a caixinha, um pozinho dourado, brilhante como os raios de sol invade meu rosto. Ele guarda o restante na caixa. Diz ser para uma próxima visita. Eu me sinto tonta, com uma leveza incrível e o coracão cheio de alegria.

Fecho os olhos de puro êxtase. Sinto alguém tocando no meu ombro. Abro os olhos e me encontro de novo ao lado da macieira. Sinto a grama viva e o cheiro de terra. A realidade é verde, mas a vontade é seca, quente e árida. Em minhas mãos uns grãozinhos dourados de areia.

Saturday, August 26, 2006

Almas Gêmeas

Submersa nas estantes de livros da biblioteca, um instinto faz com que ela olhe para fora da enorme janela de vidro. Lá estava ele, andando rapidamente, olhando para o chão, levanta os olhos na mesma hora. Seus olhares se encontram. Seus coracões disparam. Ela lembra, nesse mesmo segundo, que viu esse mesmo olhar, não no mesmo corpo. Era a mesma alma. O mesmo sentimento, a mesma falta de ar por uns segundos.
Da primeira vez, ela estava em uma feira de ciências. Seu namorado, estava participando da feira, enquanto ela zanzava. Foi quando dois olhares se encontram. Ele, um anjo de cabelos cacheados loiros, olhos azuis, não era esbelto. Imediatamente abriu um sorriso ao vê-la. Ela também. Se reconheceram. Ele estava com sua namorada, e mesmo assim não conseguiu esconder o magnetismo. A namorada o puxa. E ele não se move. Ela continua estática, sorrindo. E ele, diz com a alma, que agora não pode, mas um dia se encontrarão novamente. E ele some.
Ela continua estática, mas está mexida. Com as bochechas vermelhas e as mãos suadas.
Chegou o dia. Em outro corpo, ele ressurge. Os olhares se encontram. Os dois não respiram. Sabem que se pertencem. Ela permanece estática também, pois a situacão não a permite que demonstre. Várias pessoas em volta. Sua amiga, que estava ao lado, percebe e diz : "Foi amor à primeira vista?" Ela apenas responde: "Não. Foi apenas um reencontro. Reconheci aquele que me pertence".

Saturday, August 19, 2006

O mestre, a bruxa e o alquimista

O encontro foi a beira do mar mediterrâneo, em meio aos escombros dos palacetes. Ninguém de testemunha além dos tijolos seculares. O cenário: um restaurante aconchegante, sem muitas pessoas ao redor. Os dois, imersos na conversa e frases intuitivas jorrando como cascata a cada segundo. Uma refeicao deliciosa, regada a um bom vinho levando-os a um estado de semi-transe. E ele serviu de canal para uma revelacão. Diz que o valor de uma obra está em seus contornos e imperfeicões. A criatividade pede para que não exista perfeccionismo. O belo está no imperfeito. E com isso ela sentiu a presenca de seu pai. Foi através do alquimista, que o mestre se manifestou. E assim ela soube qual o seu caminho. O encontro entre o alquimista e a bruxa. E foi assim que ela ouviu segredos de elixires e trocou receitas de pocões mágicas.



Mais uma vez uma celebracão. Celebrar a vida e a criacão. Perfeita ou não. É como lembro a partida de meu pai, Bobby Stepanenko, para um plano maior, há exatos 11 anos atrás. Pois um artista nunca se vai, sempre se manifestará em sua obra, ou dará um jeito de se manifestar nas palavras de um doce alquimista. E agora sinto, mais do que nunca, que eu e minha irmã somos a sua continuacao. Obras imperfeitas, em constante processo de acabamento e lapidacão.


Anéis de Bobby Foto: Caio Mourão

Sunday, July 23, 2006

Granny e Diane de Poitiers

Aconteceu há uns anos atrás. Conversando com minha querida vó Monique, descrevi um sonho que tive de um castelo. O sonho era vívido. Vi detalhes do castelo, do jardim, das águas em volta, dos muros. Eu estava lá.
Ela, sempre muito inteligente e ávida por tudo o que é história, abre um livro sobre os castelos em torno do vale do rio Loire. Ela me mostra as fotos, e diz que é um dos seus lugares preferidos. Tive um verdadeiro choque e um estalo quando ela abre a página no castelo de Chenonceau. Uma sensacão esquisita de uma familiaridade imensa, como se eu realmente estive lá. Minha avózinha, decartiana e apesar de ser católica, sempre dizia que descendíamos dos Celtas, devido a região que ela nasceu : Aurignac, cidadezinha próxima aos Pirineus, à 60 kilômetros da cidade de Toulouse. E ainda teimava em falar que poderíamos mesmo ser descendentes dos Atlantis.
Descrevo a ela minha sensacão maluca. Ela me olha com uma carinha sapeca, sem espanto e fala: - Ah! Eu sei que esse castelo era da amante de Henri II. Vamos procurar direito os detalhes.
Tira um livro da estante. E me diz:
- Não falei?! Aqui está!


diane2


Esse castelo pertenceu à amante de Henri II, Diane de Poitiers, Duquesa de Valentinois. O poder de Diane sobre Henri era tão grande que ela era considerada a *rainha virtual*, ou o cérebro atrás do trono e era uma mulher extremamente bela, sensual, passional e inteligente. Assim Catherine de Médici, esposa de Henri, vivia na obscuridade.

Well, desconsideremos o fato de que ao iniciarem o romance, Henri era um garoto de 15 anos e ela uma bela mulher madura no auge de seus 35 anos. Ficaram juntos por 25 anos e ela seria a mais poderosa influência nas decisões do trono, chegando mesmo a escrever muitas cartas oficiais e assinando cartas com a rubrica de HenriDiane.
Sua posicão na corte era tão evidente, que ao enviar o Rosário de Ouro à Catherine, o Papa Paulo III, não esquece de Diane e a envia um colar de pérolas. Com o falecimento de Henri, a megera Catherine bane a pobre Diane do castelo e toma posse.

Minha vó me olha de novo com aquele olhar maroto, um sorriso no rosto e diz:
- Quem sabe você não foi Diane na outra encarnacão?
Eu, com a face corada, apenas respondo:
- hm hm...

A história toda foi que, ontem, relembrei deste episódio. Comecei a procurar na internet sobre Diane. Fiquei muito surpresa ao encontrar o brasão dela, simbolizando as 3 faces da Deusa. Os 3 crescentes interligados. Além de tudo ela tinha sim um pézinho no caldeirão e a mãozinha na vassoura. Poxa!


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Monique Marie-Thérèse Rayneau, Vó Monique ou Granny, como era carinhosamente chamada, que tanto viveu e nos ensinou, nos deixou no dia 21/07/2005. Sabemos que os anjos, os deuses do panteão celta, e a mãe intocada da crianca divina, Virgem Maria, a tem ao seu lado.

Thursday, July 13, 2006

Ócio Criativo


E por aqui as coisas vão bem. Muito calor e toneladas de morangos dinamarqueses. Sim! D-I-N-A-M-A-R-Q-U-E-S-E-S, e isso é sempre bem frisado. Juntamente com as cerejas pululando pelos cantos. E, eu, guerreira que sou, fujo das batatas e carne de porco como o diabo foge da cruz. Nesse calor, nem morta! E eles insistem. Mas saio pela tangente e faco um belo bacalhau ao forno. Daqueles de sexta-feira santa, sabe? Também me entupo de chazinho ayurvedico (devidamente morno) especialmente feito para mulheres.
Bom, tudo isso para mostrar como estou inspirada, chegando a postar meu cardápio aqui. hahahaha Minha amiga Luiza disse que é ócio criativo. Amén!

Monday, July 03, 2006

A momentary lapse of reason




O ser humano não é linear, né?! A graca da vida é essa inconstância, esses altos e baixos, que de vez em quando dão uma chacoalhada no ser. Esses dias eu me sinto assim, com uma inquietacão, uns belos insights e uma certa insatisfacão.






Não foi a TPM. Não é. Me sinto vivendo dentro da capa dos álbuns pinkfloydianos, comecando pelo 'Atom Heart Mother'.
Quando vou ao trabalho de bike, me desintegro na paisagem, em meio ao vento sussurrando nos campos de trigo, e esses retribuindo ao sopro suave, como uma onda.
Chego em casa e vem um sentimento de solidão fudido. É aí que mergulho em 'A Momentary Lapse of Reason'.






Saio lá fora e me desintegro na paisagem novamente. A sensacão ameniza. Viro grama e hyldeblomst. 'The Final Cut'.

Friday, June 16, 2006

Princesa Josephine


E ela veio de mansinho. Timidamente pergunta:
- Que você tá fazeeeendo? (Em dinamarquês é algo como "Va lêooo du?")
- Tô trabalhando. - respondo com um sorriso.
E aí ela comeca a contar estórinhas, em seu dinamarquês perfeito.
Volta e meia, pergunto:
- Não entendi. Que significa isso?
E ela pacientemente explica. O nome dela é Josephine. Em dinamarquês "Iosefin".
Ela quer ajudar em meu trabalho. Digo que não precisa.
Falo a Josephine:
- Que nome lindo você tem! Tenho quase certeza que é nome de princesa.
Josephine, na plenitude de seus 6 anos, abre um sorriso banguela e muito doce. Sorri e pergunta se é verdade.
- Er det rigtig?
- É sim, Josephine é nome de princesa. - Eu falo isso, suando frio para que exista sim uma princesa Josephine. E existe! É a princesa Josephine da Bélgica. Ufa!
Foi assim que Josephine comeca a tagarelar e a falar das vaquinhas que tem em casa, do leite que toma todos os dias direto da vaca. Aí eu que abro um sorriso, como quem encontra uma parceira.
- Aaaah! Josephine você tem uma vaca? Não acredito!!
Josephine toda orgulhosa, fala sobre a vaca, os cavalos, os bezerros que ela tem em casa.
E depois pega cada coisa que encontra em sua frente e vai me falando os nomes em voz alta para que eu aprenda.
Logo depois descubro que Josephine mora em uma das casas perto da escola, em um condomínio fechado.
Sweet Josephine vai embora pois tem um samling. Samling. Ai ai. Bem que ela tentou me explicar o que era.
Depois de uns dias encontro a princesa novamente. Ela abre os bracos e me dá um abraco apertado. Ficou assim uns minutos. Não queria soltar. Doce Josephine!

Thursday, June 15, 2006

No espelho



Em meio a desentendimentos, aporrinhacões, cobrancas, vejo também o teu lado kind, sweet, loving, generous, a maneira como você se entrega as pessoas sem pedir em troca. Dá e não espera receber. Uma alma complexa, alguns poucos conseguem enxergar o outro lado e talvez alguém consegue entender.
Adoro quando fica em silêncio, ou mesmo teus ataques de riso quando não há ninguém por perto. Rindo das próprias gafes. Sim, coisa de gente maluca. Se esgüelando, ao som de "Born to be wild" no último volume, on the road. É isso que adoro em você, essa maluquice sem fim. Os outros só fazem com que eu vá ao teu encontro. Cada nova paixão te desvendo um pouco mais. Sorvo cada momento, mesmo os mais obscuros ao teu lado.

Vejo meu reflexo no castanho de tua íris. E assim, percebo a maravilha de ser EU. Esse é o caminho.

Wednesday, June 14, 2006

Leveza


Hoje fui dar um passeio no bosque. Aqui existem vários bosques, com árvores gigantescas e clareiras de contos de fadas. Até é possível ver algumas. Deixei meu corpo me conduzir ao *lugar* certo. Um tronco, repleto de musgos me chama.
Sento em lótus e respiro, inspiro. Entôo um mantra. Entro em Alpha. Uma voz ao fundo, forte, me diz segredos da alma. Uma luz rosa emerge no meio de duas árvores. Essa voz me diz segredos sobre meu caminho. A revelacão é tão profunda que me faz chorar. Não de tristeza, mas de felicidade. Da certeza que devo continuar neste caminho. Que esta forca me acompanhará e que eu sou e serei instrumento de sua bondade. Que eu posso fazer o bem, que o caminho é simples, e o resto é ilusão. Que os sentimentos confusos, os medos e apegos são apenas uma estratégia do ego para afastar o amor maior. O amor puro e simples. Sem máscaras, sem palavras, sem conceitos e sem julgamentos. A faxina mental é feita.
Estou tranquila agora. Percebo, mais uma vez, que esse furacao de emocões foi recebido passivamente por mim. Sem acao, apenas reacão. E assim como o recebi tranquilamente, assim o aceitei e assim deixo que vá. Sem mágoas, nem ressentimentos. Continuo em pé, de onde nunca saí, forte como um bambú, que se curva ao chão com o vento e retorna ao seu eixo, sem danos.
Após esse insight uma luz dourada me banha. Leveza. Certeza. Simplicidade. Agradecimento.

Monday, June 05, 2006

Roskilde Dyrskue



Sempre tive uma simpatia pelas vacas. E virou uma paixão depois de visitar a Feira Agropecuária em Roskilde (Roskilde Dyrskue em dinamarquês). Essa feira é um dos maiores eventos de agropecuária no norte da Europa, atraindo cerca de 80.000 a 90.000 visitantes cada ano. Além de criadores de cachorros, gatos, ovelhas, cavalos também tem um expressivo número de vaquinhas. Equipamentos, veículos rurais, jeeps, também pode-se encontrar lá.
No meio desta confusão, caminhando calmamente - talvez envolta em seus pensamentos, talvez apenas ruminando uma inocente graminha - lá estava ela: a vaca escocesa (Scottish Highland Cattle). Olhei-a nos olhos e foi paixão a primeira vista. Um encontro inesquecível.

Esse afã pelas vacas, talvez venha ainda de tempos remotos. Quando minha mãe desenhou na parede da sala de casa, um belo pasto com vaquinhas holandesas, inspirando-se no disco "Atom Heart Mother" do Pink Floyd.

Agora, com essa nova paixão, desisti de comer carne de gado. Parei. Quando vejo um bife, penso naqueles olhinhos puros me fitando. Mórbido.

Thursday, May 25, 2006

KISS

Navegando pela internet, me deparei com este acrônimo: KISS. Eu estava procurando informacões sobre blog, ética e pumba! caí no KISS. Uma das definicões de KISS na àrea de IT é : Keep it Simple Stupid.
Pois é! Eu adorei. Isso veio como um tapa na cara. Pois eu sou do tipo que sigo pelo caminho mais esburacado, cheio de lama e facões, quando na verdade passa uma larga rodovia a uns 2 kilômetros de distância. É inevitável, sempre escolho o caminho mais longo, mais árduo e mais difícil. Uma auto-penitência talvez? KISS.

http://en.wikipedia.org/wiki/KISS_principle


Sunday, May 21, 2006

Ironias


O humor dinamarquês é peculiar. Tanto que eu deveria fazer um tópico só para as tantas "piadas" que já ouvi desde que cheguei. A última veio do meu chefe. Meu dinamarquês engatinha e consigo entender apenas uma parte do que eles falam. Foi o suficiente para perceber que ele tirava a maior onda com a minha cara.
Pedi a ele meu contrato - kontrakt - de trabalho, ele deu risada e ligou para a administracão. Comecou a falar com a secretária e disse:
- Minha jovem funcionária está pedindo o "contrato" dela.
Não entendi o resto que ele falou, apenas que na próxima encarnacao ele queria ser um coelho.
Quando ele desligou, ele me disse: - Contrato? Não se fala kontrakt e sim ansættelsesforhold. Contrato seria se fossemos casados. Se não, depois que você assinasse teria que cozinhar e lavar para mim.
Vejam bem, ele falou isso com ar debochado, dando risada.
Eu olhei para ele com aquele olhar fuzilante, quem me conhece bem sabe como é. Eu não disfarco.
Eu disse, sorrindo - em inglês - pois quando tô furiosa, só isso que sai:
- Torben, um dia quando eu aprender o dinamarquês eu vou te revidar todas essas tuas piadinhas. E aí você vai ver o que é bom.
Ele terminou a conversa dizendo: - Nossa, esse olhar furioso é igual ao da minha esposa, quando está brava comigo.
Para vocês entenderem bem, não é que eles fazem piadas desse tipo para te diminuir ou coisa assim. Eles não se levam a sério e vivem se auto-debochando.
O problema é que nós, brasileiros, levamos para o lado pessoal e isso nem com 15 anos vivendo aqui, não se dissipa. Tenho uma amiga que vive aqui há 14 anos e até hoje discute com o marido sobre as piadinhas. Ela me disse:
- Ué! Se ele falou isso diretamente para mim, como é que eu não posso levar para o lado pessoal? E se falou... Agora aguenta!!
O negócio é levar na esportiva e encontrar um meio termo. Levar na brincadeira, mas não deixar o povo sapatear em você, iunouaraimin?!

Tuesday, May 16, 2006

Primeiras linhas


Primeiríssimo de tudo, devo e quero agradecer minha querida amiga Grace que se empenhou e dedicou seu tempo precioso a fazer este lindo blog. Com este empurrão, que na verdade foi um guindaste, comeco as primeiras linhas. Obrigada minha amiga!!!
Segundo, preciso checar as estrelas, pois meu blog nasce no dia 17 de maio às 12:57 da manhã do hemisfério norte. Vejamos: Sol em Touro, ascendente em Capricórnio e lua em Capricórnio. Vixe!!! Parei por aqui, pois sei bem o que é carregar a cruz de Capricórnio no Ascendente.
Daqui farei minha casa virtual, onde quem entrar, que seja bem vindo, porém como precaucão de bruxa, deixarei a vassoura atrás da porta.