Um gato, com olhos de um profundo azul, me recebe com um sorriso quente.
Ele me diz, com uma voz doce, que estou no meio do deserto no Afeganistão. Sinto a areia batendo em meu rosto e o sol castigando minha pele. Isso não me incomoda, pois o gato, que se diz selvagem, sabe conduzir com desenvoltura nosso encontro e me distrai.
Ouco boquiaberta suas estórias de sereias apaixonadas e filhos bastardos da lua. Ele me diverte, tem uma risada contagiante e a sabedoria de um velho dervixe. Me canta músicas e me envolve com suas palavras doces.
Tira uma caixinha brilhante do bolso – sim, ele tem um bolso em sua calca camuflada! Quando abre a caixinha, um pozinho dourado, brilhante como os raios de sol invade meu rosto. Ele guarda o restante na caixa. Diz ser para uma próxima visita. Eu me sinto tonta, com uma leveza incrível e o coracão cheio de alegria.
Fecho os olhos de puro êxtase. Sinto alguém tocando no meu ombro. Abro os olhos e me encontro de novo ao lado da macieira. Sinto a grama viva e o cheiro de terra. A realidade é verde, mas a vontade é seca, quente e árida. Em minhas mãos uns grãozinhos dourados de areia.